Vincent La Chapelle

Vincent La Chapelle (c. 1690–1745) ocupa uma posição central na consolidação da alta cozinha europeia do século XVIII. Embora menos conhecido do grande público que seus sucessores, como Antonin Carême, sua obra exerceu influência direta na profissionalização e no refinamento técnico da culinária aristocrática. La Chapelle atuou em diferentes cortes e casas nobres na França, Holanda e Inglaterra, e essa mobilidade favoreceu a criação de um repertório culinário internacionalizado, sofisticado e fundamentado em métodos precisos.

Seu legado está principalmente associado ao tratado monumental Le Cuisinier Moderne, publicado entre 1735 e 1742. A obra, em diversos tomos, reúne centenas de receitas, princípios de organização do serviço e técnicas de preparo. Para os estudiosos de gastronomia, esse livro representa um elo entre a cozinha cortesã do século XVII e o processo de racionalização culinária que dominaria o século XVIII.

A edição portuguesa do Larousse Gastronomique observa que La Chapelle “foi um dos primeiros autores a sistematizar a cozinha da corte com clareza técnica, detalhando etapas e proporções de maneira mais objetiva do que muitos de seus contemporâneos” (LAROUSSE GASTRONOMIQUE, 2015, p. 544). Esse caráter sistematizador já antecipava a mentalidade de precisão que marcaria a culinária posterior.

Sua escrita, embora elegante, demonstra preocupação pedagógica. Em sua descrição do trabalho do cozinheiro, La Chapelle manifesta a convicção de que a excelência depende da técnica e do domínio dos ingredientes. Em tradução publicada no Brasil, lê-se: “A arte da cozinha requer aplicação constante; nada deve ser deixado ao acaso, pois a menor negligência compromete o conjunto” (LA CHAPELLE, 2010, p. 37). Essa concepção anuncia o profissionalismo que se tornaria regra na gastronomia europeia dos séculos seguintes.

Diversos historiadores ressaltam que La Chapelle ofereceu contribuições importantes para a organização do serviço à francesa. Montanari (2017, p. 298) destaca que Le Cuisinier Moderne não se limita a apresentar receitas, mas descreve a composição de banquetes, a ordem dos pratos e a estética das mesas, elementos essenciais para compreender a gastronomia como linguagem cultural e social da época.

Além disso, La Chapelle participou da difusão da culinária francesa fora da França. Durante seus anos na Inglaterra, trabalhou para nobres próximos à corte e, segundo Flandrin e Montanari (2014, p. 412), contribuiu para “a adaptação de técnicas francesas aos hábitos britânicos, estabelecendo um diálogo gastronômico que influenciaria a cozinha inglesa do século XVIII”.

Seu tratado circulou amplamente e influenciou cozinheiros de diferentes países. Embora não tenha alcançado a aura quase mítica de Carême, La Chapelle pavimentou a transição entre a cozinha barroca, abundante, ornamentada e marcada por contrastes, e a cozinha iluminista, mais racional, estruturada e técnica. Como sintetiza Franco (2012, p. 203), “La Chapelle está entre os responsáveis por transformar o cozinheiro em um profissional de método, e não apenas de habilidade”.

A relevância de sua obra permanece também como fonte histórica. Por meio de suas receitas, é possível visualizar os ingredientes de prestígio, os modos de conservação, a relação entre luxo e mesa e até os primeiros sinais de padronização técnica que guiariam a culinária ocidental. Le Cuisinier Moderne conserva, portanto, tanto valor gastronômico quanto documental, revelando uma época em que comer era uma representação de poder, refinamento e identidade cultural.

Para saber mais sobre Gastronomia acesse: Conceitos e Teorias


Eu sou graduada e pós graduada na área de gastronomia e compilei todos os anos de estudo em apostilas que estou transformando em um livro “Diário da Gastronomia. De Tudo… Um Pouco.” (Para saber mais acesse a página A Gastrônoma, A Autora, A Terapeuta, A Multiface). Através deste site postarei informações importantes que contribuirá para aumentar o conhecimento dos leitores na área de gastronomia A parte teórica pode ser encontrada na páginaConceitos e Teorias“. Quanto à prática, os leitores podem ir treinando com asReceitaspostadas. Todas as receitas foram previamente testadas.


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FONTES IMAGENS: Adriana Tenchini


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