Spoiler 2 – Morte da Ilusão

“Se abra para a Magia.” Adriana Tenchini

Como os meus leitores já sabem, estou escrevendo um novo livro mediúnico e neste mês de outubro, novas imagens e textos surgiram para complementar a obra. É por isso que ando sumida, não realizando postagens no site. Quando recebo essas novas visões, me prontifico a dedicar somente à escrita.

Venho aqui também para relatar um outro ponto importante. A princípio intitulei este novo livro como “Morte da Inocência”, mas juntamente com os textos que recebi, veio também através da espiritualidade que este não é o nome correto. O novo livro terá o título “MORTE DA ILUSÃO”.  Sendo assim, estou alterando todas as postagens feitas anteriormente para o novo título.

Ah! E aproveito para postar aqui mais um spoiler desta nova e fascinante história.

Spoiler 2 – Casamento Celta

Dia 20 de Dezembro de 1332 – Condado de Ormond – Irlanda

O rapaz dá o braço a ela e seguem para o local da cerimônia em uma clareira à leste, próximo ao um bosque de carvalhos. Kendra presta atenção em todos os detalhes. Nunca foi em um casamento gaélico e está ávida em assimilar tudo. No meio da clareira foi colocada uma espécie de mesa alta, redonda e estreita que está decorada com várias flores silvestres. Em cima desta mesa se avista uns potes de cerâmica e fumaça. Meredith adivinhando a curiosidade de Kendra, explica baixinho:

— Primeiro preciso te explicar que nós gaélicos acreditamos que a natureza é sagrada e a ela devemos a nossa vida. Por isso a exaltamos em todos os momentos importantes. Aqui está presente os nossos deuses ao qual devemos honrá-los. Sei que sua crença é outra, acredita em um Deus único, mas essa é a nossa realidade. Posso continuar?

Kendra balança a cabeça afirmativamente e Meredith continua:

— A nossa cerimônia matrimonial acontece ao ar livre para estar em contato com os deuses e com a natureza que criou cada um de nós. Exaltamos essa natureza através da união dos quatros elementos: água, terra, fogo e ar. Um daqueles potes contém água pura que será aspergida na fronte dos noivos após a troca de votos. A terra está sob nossos pés e para senti-la melhor, os noivos se casam descalços para que possam receber toda a energia emanada por ela. O fogo vem da queima de lascas de madeira perfumadas trazendo purificação. É aquela fumaça que vemos subindo. E pôr fim ao ar. Este está ao nosso redor, nos ajudando a respirar e a viver.

— Que lindo! – diz Kendra maravilhada.

— Ah! Esqueci – continua Meredith. — Na mesa ainda tem um pote com água misturada com sal. Esta será derramada sobre as mãos dos noivos que serão atadas no início da cerimônia.

— Atadas? Como assim? – pergunta Kendra.

— Está vendo aquela fita branca em cima da mesa – após Kendra confirmar, Meredith continua: — Os noivos ficarão em pé um de frente para o outro e suas mãos serão amarradas com aquela fita dando nós e entrelaçando a vida dos dois.

Neste instante, todos escutam um sininho tocando.

— Vamos, a cerimônia irá começar – diz Alanis para as meninas.

Os convidados caminham e formam um círculo ao redor da mesa central, com os homens de um lado e as mulheres do outro, deixando um espaço aberto para os noivos entrarem. Não tem muitas pessoas, pois na cerimônia gaélica só se faz presente a família e os amigos mais íntimos. A presença de Kendra e Usher é uma exceção devido ao grande carinho que Meredith sente pela sua irmã de alma.

Surgem duas crianças – um menino e uma menina – de mais ou menos uns 6 anos. O menino toca um sininho e a menina joga sementes ao solo a cada passo.

— A semente é para trazer prosperidade ao casal e o som do sino afugenta os maus espíritos que porventura estejam no local para interferir ou atrapalhar a união – diz Meredith baixinho para Kendra.

Atrás das crianças caminha um senhor idoso, com barba e cabelos longos, ambos esbranquiçados pelo tempo. Ele usa uma túnica branca que se arrasta pelo chão. Todos estão descalços. Meredith sentindo a dúvida de Kendra cochicha em seu ouvido:

— Ele é um Druida, um dos poucos que restaram aqui na região – vendo a cara de espanto da menina, Meredith complementa: — Depois explico melhor.

As duas voltam os olhares para a cerimônia. As crianças se posicionam uma de cada lado da mesa e o Druida na frente dela. O noivo entra no círculo e caminha na direção da mesa, ficando em pé defronte do Druida. O menino continua a tocar o sininho até o noivo chegar.

Em seguida, todos escutam uma linda melodia tocada por harpas e surge a noiva. Ela está com um lindo vestido azul esvoaçante. Na cabeça, uma coroa de flores coloridas e por cima um véu transparente que encobre seu rosto. Nas mãos ela carrega flores e um pedaço de pano branco.

Meredith novamente cochicha no ouvido da amiga dizendo que o vestido azul é porque a cor representa a pureza e a inocência. O pano que carrega nas mãos traz a fertilidade e depois do casamento a noiva o transformará em vestes para o primogênito.

A noiva caminha e se alinha ao lado direito do noivo, ambos olhando para o Druida. Este, pega um potinho de sal que está sobre a mesa e desenha um círculo ao redor dos noivos.

— Ah! Esqueci de falar deste pote – diz Meredith.

As duas meninas riem baixinho e a senhora Alanis corrige-as, pedindo silêncio.

Os pais dos noivos entram, se posicionam em fila, com as mães à frente. Os noivos olham para os pais, mas continuam um defronte do outro. A noiva com a mão direita segura na mão direita do noivo, como se fosse um aperto de mão. O Druida entrega a fita para a mãe da noiva que passa em volta das mãos dos dois amarrando com um nó. Em seguida, a mãe do noivo se adianta e dá mais um nó, passando a vez ao pai da noiva e termina com o pai do noivo, formando assim quatro nós.

— Essa parte já te contei – diz Meredith.

As duas riem.

— Shh! Fiquem em silêncio – pede novamente a senhora Alanis.

O Druida caminhando por entre os convidados e os noivos, profere lindas palavras sobre amor, união, fidelidade e família. Todos se comovem. Após o belo discurso, ele pega o pote de água com sal, entorna nas mãos dos noivos e desfaz um nó.

— Também já te contei isto.

Novos risos.

— Meninas, não conseguem ficar em silêncio? – ralha a senhora Alanis.

— Mas mãe, é que ela desconhece nossas crenças. Só quero explicar – diz Meredith.

— Depois Meredith, agora não é hora.

Alguns convidados olham em direção a elas pelo cochicho. Alanis envergonhada diz baixinho para Meredith:

— Não quero mais conversas, entendeu!

— Sim senhora!

Responde as duas meninas ao mesmo tempo e voltam a atenção para a cerimônia no instante em que o noivo termina os seus votos. O Druida asperge água pura na fronte do noivo e desata mais um nó. Agora a noiva diz os seus votos e da mesma forma, ao final, o Druida asperge água pura na sua fronte e desfaz outro nó.

O Druida agora pega o prato de cerâmica com as lascas de madeira queimando e rodeia os noivos para que a fumaça os purifique, coloca de volta na mesa e desfaz o último nó. Com as mãos livres, o noivo retira o véu do rosto da noiva e beija a sua fronte.

Todos os convidados dão as mãos, se aproximam o máximo possível mantendo o círculo e suspendem as mãos unidas ao céu pedindo proteção aos deuses. Todos dizem algumas palavras em um dialeto que Kendra não entende, mas este não é o momento de perguntar.

Ainda com as mãos unidas e bem próximos dos noivos, eles escutam uma linda melodia de flauta. Os convidados que estão em frente aos noivos soltam as mãos e abrem o caminho para os noivos passarem. Estes caminham até o flautista que está a uns dois metros de distância. Todos os convidados soltam as mãos e se posicionam atrás dos noivos.

Após a música solo do flautista, entra no local um jovem tocando um tambor, uma moça com sua harpa seguidos por um bardo cantando uma música composta exclusivamente para os noivos. A letra conta a história de vida dos dois, desde o nascimento até a união naquele momento, o que emociona todos os presentes, vertendo lágrimas em sua maioria. A música termina e é hora de cumprimentar os noivos. Todos estão descontraídos e felizes. Kendra aproveita para perguntar a Meredith o que foi dito naquele momento.

— Eu falo muito bem o gaélico e outros dialetos, mas aquelas palavras não entendi.

— São palavras mágicas, ensinadas pelos deuses. Somente podemos proferi-las quando estivermos em presença de um Druida que é o canal de comunicação entre nós e os deuses. Aquelas palavras não podem ser repetidas na ausência deles ou acarretaremos maldições para toda a família – responde Meredith.

As meninas não notam, mas o Druida está próximo delas e ouve a conversa. Ele se aproxima e em gaélico diz a Kendra:

— Não se preocupe, pequena. Tu serás grande neste mundo e serás também um canal. Aprenderás e promulgarás palavras sagradas e mágicas. Através de ti, virão grandes curas físicas e espirituais. Terás grande poder, mas cuidado! Quanto mais poder, mais risco de errar.

As duas meninas se assustam com a chegada dele e não entendem por que ele diz tudo isso, afinal Kendra nem é gaélica. Quando a menina vai questionar o que ele quer dizer, a senhora Alanis se aproxima. Os dois trocam algumas palavras e o Druida se mistura aos convidados. Kendra se vira para Meredith e diz:

— O que foi aquilo? Não entendi nada. Me explica por favor.

— Sinto muito Kendra. Nem eu entendi – responde a amiga. — Ele deve ter te confundido com outra pessoa.

— Deve mesmo – fala Kendra, porém continua pensativa e com as palavras dele ecoando em sua mente, porém de repente se lembra: — Falando nisso, ficaste de me explicar o que é um Druida.

— Ah! É mesmo. O Druida é um tipo de líder para o nosso povo – responde baixinho.

— Um líder? Como assim? O líder destas terras é o Lorde Balder e este responde ao rei da Inglaterra – Kendra abaixa o tom de voz e olhando ao redor indaga: — Por acaso, a população de Shanann está planejando alguma rebelião contra a coroa?

— Claro que não Kendra. Um Druida não é um líder armado ou político. Ele é um líder religioso e espiritual que cuida do nosso povo. Os Druidas são homens sábios que com seu conhecimento de magia, sua conexão com a natureza e com os deuses executam diversas funções na sociedade gaélica como curandeiros, juízes, conselheiros dos reis, magos, professores, poetas, músicos e outras mais.

— Nossa! – explana Kendra.

Meredith continua:

— Para atingir tal grau não é fácil. Eles aprendem desde a mais tenra idade, mas nem todos atingem o patamar de Druida. É um trabalho árduo que necessita de muito estudo, além disso, deve ser provido de muita intuição. Afinal, um Druida é um canal entre o visível e o invisível.

— Mas como se escolhe quem será um Druida! – pergunta Kendra.

— Os deuses escolhem. – sentindo que Kendra não entende, Meredith explica: — Os jovens escolhidos pelos deuses para seguir neste caminho tem manifestações desde pequenos. Alguns veem entes queridos que já morreram, uns predizem o futuro, outros tem o poder de cura… É imprevisível, são vários os sinais que os deuses nos enviam. Quando a criança demonstra algum comportamento diferente, é levada até o Druida responsável pelo local e ele analisa se ela foi ou não tocada pelo poder dos deuses – finaliza Meredith.

— Como eu nunca ouvir falar sobre isso – interroga Kendra.

— Nossa terra foi invadida por povos e costumes alheios ao nosso. Os Druidas nunca foram vistos com bons olhos. Para os ingleses, nossos mentores são uma espécie de bruxos ou demônios. Vários foram mortos queimados, apedrejados ou esquartejados. Essa perseguição ocasionou o afastamento e a fuga para o oeste da ilha. Por isso te peço, minha amiga. Não comente com ninguém sobre o que viu aqui e peça a Usher que faça o mesmo. A presença dele foi uma surpresa até para mim. Achei que quem irá presidir a cerimônia era o ancião de Shanann. Mas fiquei muito feliz, pois ter o casamento celebrado pelo nosso mais alto líder religioso é sinal de muita sorte e prosperidade.

— Não se preocupe, Meredith. Não comentarei com ninguém e tenho certeza que Usher também não.

— Ah, esqueci de te contar! Os Druidas não são somente homens. Existem mulheres também, as Druidesas – Meredith fica pensativa por uns minutinhos e em seguida diz: — Quem sabe foi isto que ele viu em ti. Talvez tu tenhas sido escolhida pelos deuses. É isso mesmo… por isso aquela conversa conosco.

— O que? Não estou entendendo nada – comenta Kendra.

— Esquece Kendra. Tudo acontecerá no tempo certo!


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FONTE IMAGEM CAPA: Imagem de Ingo Jakubke por Pixabay

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