
Spoiler 3 – O Riacho Wobble
Dia 24 de novembro de 1324 – Condado de Ormond – Irlanda
A coleta de impostos deste semestre está comprometida. Os guerreiros da Armada da Cruz Sagrada estão em prontidão na fortaleza e não podem sair em comitiva. Tudo começou há alguns meses, por causa de discordâncias entre Edward II, rei da Inglaterra e Carlos de Valois, rei da França, sobre o Ducado da Gasconha, o que levou à Guerra de Saint-Sardos.
Edward tentou soluções pacíficas no início deste ano, porém, sem sucesso. Em junho, Carlos IV assinou uma ordem para que os chefes da sua infantaria reunissem as tropas e ficassem de prontidão. Em agosto, Carlos de Valois invadiu a Aquitânia.
Os ingleses estavam mal preparados. A maioria havia passado pela fome e muitos lugares estrategicamente importantes não tinham tropas para defendê-los. As forças de Edward na Gasconha somavam 4.400 homens, porém, a infantaria francesa, comandada por Carlos, chegava a sete mil.
Carlos cruzou a fronteira liderando seus homens e devastou toda a região em apenas seis semanas, cortando a ligação com a cidade de Bordeaux. Em resposta, Edward ordenou a prisão de qualquer francês na Inglaterra e tomou as terras de Isabelle, sua esposa, por ela ser francesa e irmã de Carlos de Valois.
Em novembro, Edward reuniu-se com religiosos e condes. Eles recomendaram que ele liderasse uma força de onze mil homens para a Gasconha. Porém, o rei decidiu não ir pessoalmente, enviando em seu lugar João de Warenne, e, enquanto isso, abriu negociações com o rei francês.
Carlos apresentou diversas propostas para encerrar o conflito, sendo a melhor a sugestão de que Isabelle e seu filho mais velho, Edward, viajassem até Paris para prestar homenagem pela Gasconha.

Com a imposição de prisão aos franceses na Inglaterra, muitos fugiram para a Irlanda. Chegaram saqueando as aldeias e vilarejos pertencentes a lorde Balder. Thomas e sua infantaria travaram pequenas lutas em diversas regiões e, durante este mês de novembro, estão todos em alerta dentro da fortaleza, esperando possíveis ataques.
Depois de amargar prejuízo por não arrecadar os impostos até o momento, Balder aguarda o desenrolar das negociações ou das batalhas inglesas. Em meio à crise, o senhor Raynott convoca Thomas Gallagher, Brandon Collins e Godwin Jackson para, juntos, traçarem o melhor plano para suprir as dificuldades atuais e prevenir problemas futuros. Convida também Berthan. Balder sabe que ele não é um guerreiro e nem gosta de batalhas, mas tem vasto conhecimento e grande influência política.
Diversas ideias surgem, algumas estapafúrdias, e ao final de várias horas de discussões, uma certeza eles têm: precisam urgentemente aumentar o número de homens de armas na infantaria. E não é somente em quantidade, é necessário investir também na qualidade desses guerreiros. O que, atualmente, está quase impossível. É preciso inserir mais cavaleiros, mas não há como trazê-los da Inglaterra ou do continente. Já passaram por isso antes: a maioria não quer trabalhar na Irlanda e, quando aceitam, cobram muitas moedas de ouro.
O ideal seria gerar e treinar seus próprios guerreiros e possíveis cavaleiros em Burnick, utilizando os homens da terra. Porém, esbarram em dois problemas: o tempo e a despesa financeira. O treinamento começa muito cedo, ainda na infância. Por volta dos sete anos, o menino inicia sua formação exercendo a função de pajem; aos quatorze, torna-se escudeiro; e somente será consagrado cavaleiro entre os dezoito e vinte anos.
Conforme os jovens vão crescendo, dependendo do desenvolvimento de cada um, saber-se-á o quão bons eles serão. Nem todos chegam a se tornar cavaleiros, mas com um bom treinamento, podem surgir excelentes arqueiros, besteiros ou espadachins, que também complementam a infantaria.
Ainda há as despesas financeiras. Tudo é muito caro! Armaduras, espadas, escudos, lanças e os potentes cavalos. Normalmente, essas despesas são custeadas pela família do jovem ingressante na carreira militar, e é por isso que essa função geralmente é preenchida pelos filhos dos nobres.
A maioria da população do feudo pertencente a Balder é formada por camponeses e comerciantes. Eles não têm como custear a formação de um guerreiro, quiçá de um cavaleiro.
Berthan e Thomas insistem: não há outra opção – Balder terá que custear.
— Os senhores não estão entendendo! A cada dia, a coroa inglesa exige mais impostos, e grande parte deste valor eu nem repasso aos meus vassalos, para não gerar uma rebelião. Como posso custear tamanho investimento? Maldita hora em que aceitei essas terras de Edward… – Balder, desesperado, abaixa o rosto, escondendo-o entre as mãos, e diz baixinho: — Preciso da ajuda dos senhores. Não sei mais o que fazer.
— Calma, estamos aqui para isso, senhor – diz Thomas, sentando-se ao lado de seu senhor e amigo.
— Não consigo pensar em nada agora. Minha cabeça dói. Façamos o seguinte: peço que analisem todas as possibilidades e nos encontraremos amanhã, neste mesmo horário, em meu gabinete, para definirmos as ações a serem tomadas. Agradeço a ajuda de todos e peço que me deixem um pouco sozinho – diz Balder.
Quando todos saem, o lorde de Burnick começa a chorar como uma criança que apanhou do amiguinho. Ele é um homem rude, forte, um guerreiro que não tem medo da morte – e agora está perdido em uma situação política e financeira.
“É uma questão de honra, não posso fracassar perante a minha família e o meu povo”, pensa Balder. Em seguida, suspira fundo, limpa o rosto e sai em direção aos estábulos. Ao chegar, manda arrear seu cavalo. Vai sair.
— Abram os portões! – grita um jovem ao guerreiro de plantão.
Thomas escuta o grito e chega à janela. Ele visualiza seu senhor cavalgando em disparada na direção leste da fortaleza e se apieda dele. Balder, a princípio, seguiria até Eithan, mas depois pensou que poderia ser arriscado demais e virou seu cavalo para o sudeste, desviando pela floresta de Heywood até chegar à ponte que passa sobre o riacho Wobble.
Balder apeia, amarra seu cavalo no peitoral da velha ponte de madeira e fica ali, olhando para o nada. Está se sentindo perdido. Após alguns minutos estático, ouve o burburinho da água cristalina do pequeno riacho. Seu olhar acompanha o movimento dele.
Apesar de ser tão frágil neste ponto do caminho, o riacho Wobble enfrenta todos os desafios. Ele nasce dentro da floresta de Heywood, brotando do chão. No início, tem a largura de um palmo e profundidade menor ainda. Vai oscilando por entre as árvores e pedras até atingir o descampado além da mata. Aos poucos, vai aumentando em volume, largura e profundidade.
Ao passar por debaixo da velha ponte de madeira, o riacho Wobble já está um pouco mais encorpado. Sua largura atinge quase dois metros. Apesar da profundidade ainda não ser tanta, não chega a um metro.
Balder vira o olhar para o outro lado da ponte e observa o movimento do pequeno riacho, que desaparece à distância. O Wobble continua serpenteando ao redor dos obstáculos, das pedras, das raízes dos carvalhos centenários, girando por todas as direções em busca do caminho mais fácil, seguindo para além dos domínios de Balder. Aos poucos, vai crescendo, encorpando, até subir de categoria, transformando-se em um rio, e depois desaguando no oceano.
Lorde Balder não sabe por quanto tempo ficou ali, estudando o movimento do riacho – ou melhor, aprendendo com sua desenvoltura. O que ele sabe, ao cavalgar de volta para Burnick, é que deve ter a força e a coragem do pequeno Wobble.
Quando não se consegue vencer os obstáculos, de nada adianta lutar contra eles. Sendo pequeno perante o desafio, o resultado será desastroso. Deve-se seguir o fluxo, contornando os problemas, sabendo que eles existem, mas que podem ser superados pelo avanço contínuo da vida.
Lorde Balder entra no castelo mais calmo e decide seguir os conselhos de seus subordinados, deixando a vida resolver qual é o melhor caminho. Ele cruza com Thomas.
— Onde estava, meu senhor?
— Conforme os nativos dizem: procurando respostas na natureza – responde Balder.
— E conseguiu estas respostas, senhor?
— Sim, meu caro amigo. Vou deixar a vida seguir seu fluxo! – rindo e sem dar maiores explicações, segue para os seus aposentos.
Saiba Mais
Por ser um Livro Mediúnico ainda não tem data de publicação, pois não depende exclusivamente da minha vontade, necessito das informações recebidas da espiritualidade, mas tenho certeza de que o livro ficará pronto no tempo certo, o tempo de Deus.
E de vez em quando postarei algum spoiler!
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Imagem capa: Adriana Tenchini
