Ao longo da Idade Média, a alimentação ocupou um lugar central não apenas na mesa, mas também na vida espiritual, política e social dos europeus. Das rígidas regras alimentares impostas pela Igreja aos suntuosos banquetes aristocráticos, da simplicidade camponesa à complexidade dos mosteiros, cada prática alimentar refletia não apenas os recursos disponíveis, mas também crenças, poderes e valores de uma época marcada por contrastes profundos. Como afirmou Jean-Louis Flandrin (2001), “a mesa medieval era o espelho da sociedade”. E, de fato, nela se refletiam desigualdades, hierarquias e um lento, porém constante, processo de transformação.

A gastronomia medieval não apenas sobreviveu aos séculos, ela moldou gostos, transmitiu saberes e sedimentou hábitos que ainda hoje podemos identificar. O uso das especiarias, os modos de conservação, as refeições comunitárias, os doces conventuais, os caldos, os assados e até os códigos de etiqueta à mesa são legados visíveis dessa longa era. Estudar o período medieval nos permite compreender os alicerces sobre os quais as cozinhas modernas se construíram e, sobretudo, perceber que comer nunca foi apenas um ato biológico, é, acima de tudo, um gesto cultural.

Contudo, seria incompleto encerrar a análise da Idade Média apenas sob a ótica europeia. Durante o mesmo intervalo histórico – entre 476 d.C. e 1453 d.C. – outras regiões do mundo também floresciam cultural e gastronomicamente. Civilizações islâmicas, chinesas, indianas, africanas, pré-colombianas e japonesas desenvolveram sistemas agrícolas sofisticados, técnicas culinárias refinadas e tradições alimentares marcantes, muitas das quais influenciariam a história da alimentação global.

As cozinhas do mundo não se desenvolveram de forma isolada, mas em permanente diálogo, ainda que muitas vezes indireto. Assim, para compreender plenamente o legado da Idade Média, é necessário olhar para além das fronteiras da Europa e considerar a pluralidade de saberes e sabores que coexistiram e, em diversos contextos, se entrelaçaram ao longo dos séculos.

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Eu sou graduada e pós graduada na área de gastronomia e compilei todos os anos de estudo em apostilas que estou transformando em um livro “Diário da Gastronomia. De Tudo… Um Pouco.” (Para saber mais acesse a página A Gastrônoma, A Autora, A Terapeuta, A Multiface). Através deste site postarei informações importantes que contribuirá para aumentar o conhecimento dos leitores na área de gastronomia A parte teórica pode ser encontrada na páginaConceitos e Teorias“. Quanto à prática, os leitores podem ir treinando com asReceitaspostadas. Todas as receitas foram previamente testadas.


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REFERÊNCIAS:

Apesar de o termo “Idade Média” ser uma construção europeia, o período entre os séculos V e XV testemunhou intensas dinâmicas alimentares em diferentes partes do mundo. Civilizações asiáticas, africanas e islâmicas desenvolveram saberes culinários sofisticados, que não só refletiam seus contextos históricos e culturais, como também impactaram as trocas gastronômicas globais que viriam com a expansão mercantil e marítima.

Mundo Islâmico: refinamento, especiarias e heranças clássicas

Com o surgimento do Islã no século VII, o mundo árabe expandiu-se rapidamente, criando um vasto califado que ia da Península Ibérica até a Índia. Essa unificação territorial facilitou a circulação de ingredientes, técnicas e manuscritos culinários, muitos dos quais preservaram saberes greco-romanos. A culinária árabe medieval era marcada pelo uso abundante de especiarias, xaropes de frutas, destilados florais e pratos aromatizados com canela, água de rosas e noz moscada.

No século X, o califa de Bagdá encomendou o Kitab al-Tabikh (Livro de Receitas), atribuído a Ibn Sayyar al-Warraq, uma das obras culinárias mais importantes do período. O tratado registra centenas de receitas e práticas alimentares da elite abássida, revelando um grau de refinamento que rivalizava com os banquetes europeus contemporâneos. Conforme discutido nos estudos sobre a história da alimentação, a gastronomia árabe medieval articulava saber médico, apreço pelo luxo e uma elaborada estética da mesa, exercendo forte influência sobre outras tradições culinárias do Mediterrâneo medieval (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

Entre os pratos típicos, estavam os ensopados com cordeiro e tâmaras, os arrozes aromáticos e as pastas condimentadas servidas com pães finos. A doçaria incluía halawas, confeitos de mel, nozes e especiarias, muitos dos quais seriam levados para a Europa durante as Cruzadas.

China: técnicas sofisticadas e visão cosmológica dos alimentos

Durante a Idade Média europeia, a China viveu períodos de grande esplendor sob as dinastias Tang (618–907), Song (960–1279) e Yuan (1271–1368). A alimentação chinesa combinava a medicina tradicional com a filosofia yin-yang, buscando harmonia entre quente e frio, seco e úmido, leve e pesado.

Na China medieval, a comida era compreendida não apenas como nutrição, mas como elemento de equilíbrio vital do organismo, princípio que orientava desde a escolha dos ingredientes até os modos de preparo. Técnicas como o cozimento a vapor, a fritura rápida em recipientes profundos (como o wok) e os cozimentos em caldos aromáticos à base de ervas e especiarias eram predominantes. Utilizavam-se amplamente arroz, milheto, soja, carnes diversas, além de vegetais fermentados e molhos como os derivados da soja, que desempenhavam papel central na construção dos sabores (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

Durante a dinastia Song, os mercados urbanos ofereceram uma variedade espantosa de comidas prontas, vendidas por ambulantes: bolinhos cozidos no vapor, massas em caldo, chá verde e até doces de gergelim. Havia uma cultura alimentar urbana dinâmica, que antecedeu em séculos as experiências europeias semelhantes.

Índia: diversidade, especiarias e tradições milenares

Na mesma época da Idade Média europeia, a Índia vivia sob o domínio de vários reinos, incluindo os Impérios Gupta e, posteriormente, os Sultanatos e o Império Mughal. A culinária indiana medieval refletia essa complexidade política e cultural, com uma vasta utilização de especiarias, como açafrão, cardamomo, cominho, gengibre e pimenta, que conferiam aromas intensos e propriedades medicinais aos alimentos.

Na Índia medieval, a alimentação estava profundamente associada à religiosidade, às castas e às especificidades regionais, resultando em uma gastronomia altamente diversificada e carregada de simbolismo. Pratos à base de arroz, lentilhas (dal), verduras, iogurte e pães como o naan eram amplamente consumidos, coexistindo com elaboradas preparações de carne nas regiões sob influência muçulmana (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

A tradição ayurvédica orientava a dieta para manter o equilíbrio dos doshas (humores corporais), indicando alimentos e métodos de cocção específicos para a saúde do indivíduo. O uso do fogo e do carvão para grelhar carnes, o cozimento lento em caldos aromáticos e a fermentação natural de pães eram técnicas bastante empregadas.

Japão: simplicidade, harmonia e respeito à sazonalidade

Durante o período Heian (794–1185) e Kamakura (1185–1333), no Japão medieval, a culinária se consolidava influenciada pelo budismo e pelos costumes imperiais. A alimentação valorizava a simplicidade, a harmonia visual e o respeito às estações do ano.

No Japão medieval, a cozinha estava fortemente associada a princípios estéticos e simbólicos, nos quais o preparo e a apresentação dos alimentos expressavam equilíbrio, simplicidade e reverência à natureza. O arroz constituía a base da alimentação, acompanhado de peixes, algas, soja, vegetais em conserva e sopas leves. As técnicas de preparo privilegiavam o cozimento a vapor e a fervura suave, com uso reduzido de gordura e temperos delicados, como os derivados da soja, entre eles o missô e o shoyu (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

A cerimônia do chá, que se consolidaria nos séculos posteriores, tem raízes já no final da Idade Média japonesa, simbolizando uma espiritualidade gastronômica.

África Subsaariana: agricultura, caça e tradições orais

Enquanto isso, no continente africano, diversas culturas e reinos, como o Império de Gana e o Mali, viviam em sociedades agrícolas, pastorais e de caça. A alimentação era baseada em cereais como sorgo, milheto, e tubérculos, além da caça e pesca em rios e lagos.

Na África medieval, a culinária caracterizava-se pela utilização criativa dos ingredientes locais, pelo emprego de especiarias e pelo papel central dos alimentos nos rituais sociais e religiosos. Os pratos frequentemente combinavam grãos com molhos espessos à base de folhas, amendoim e raízes, enquanto a fermentação natural de cereais era amplamente utilizada na produção de bebidas e pães (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

A transmissão do conhecimento culinário ocorria via tradições orais, com receitas e técnicas passadas entre gerações sem registros escritos formais.

Mesoamérica: agricultura intensiva e a base do milho

Na região que hoje compreende México e América Central, as civilizações maia e asteca desenvolviam práticas agrícolas altamente sofisticadas, centradas no cultivo do milho, feijão, abóbora e pimentas.

Nas sociedades mesoamericanas, contemporâneas ao período medieval europeu, a dieta baseava-se no milho não apenas como alimento, mas como elemento cultural e religioso fundamental. A tortilha, preparada a partir do milho nixtamalizado, constituía o alimento básico, acompanhada de caldos de feijão, molhos picantes e diversos insetos comestíveis. Os rituais alimentares eram complexos e profundamente ligados a crenças cosmológicas, evidenciando a estreita conexão entre alimentação, organização social e espiritualidade (FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

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REFERÊNCIAS:

A Idade Média deixou marcas profundas na história da alimentação e da gastronomia ocidental. Embora por muito tempo vista como um período de estagnação cultural, hoje se reconhece que muitas práticas alimentares e culinárias que atravessaram os séculos nasceram ou foram consolidadas nesse período.

A valorização dos temperos, por exemplo, foi intensificada na Idade Média e persistiu nas cozinhas nobres por séculos. O uso de especiarias como cravo, noz-moscada, gengibre e canela não visava apenas o sabor, mas também a simbologia social e a conservação dos alimentos. Como observa Paul Freedman, o fascínio pelas especiarias ultrapassava a gastronomia, constituindo-se em uma expressão de riqueza, exotismo e poder (FREEDMAN, 2009).

O modelo de banquetes cerimoniais, com múltiplos pratos servidos em sequência e ambientações decorativas elaboradas, também se consolidou nesse período. Ele influenciou diretamente o que mais tarde seria formalizado como ‘service à la française’, ou serviço à francesa, no século XVII, e que perdurou até a ascensão do serviço à russa no século XIX (FRANCO, 2004; FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

Além disso, a Idade Média legou à modernidade uma visão simbólica dos alimentos, em que comer era também um ato moral, espiritual e social. As distinções entre comidas “quentes” e “frias”, “secas” e “úmidas”, de acordo com a teoria dos quatro humores, influenciaram tanto o cardápio quanto os tratamentos de saúde da época. Segundo Massimo Montanari (2008), “na Idade Média, os alimentos não eram neutros, cada um tinha uma natureza que devia se harmonizar com o corpo e a alma de quem comia”.

A cozinha monástica, com suas práticas de cultivo, fermentação, conservação e preparo coletivo, também exerceu papel fundamental na formação da culinária europeia. Muitas receitas hoje clássicas nasceram nos mosteiros, onde o saber agrícola se unia à devoção e à rotina austera. Como destacam os estudos sobre a alimentação medieval, os mosteiros funcionaram como espaços de experimentação culinária, nos quais tradição, técnica e espiritualidade se articulavam de forma contínua (FLANDRIN; MONTANARI, 2001; MONTANARI, 2008).

Por fim, a alimentação na Idade Média revela muito mais do que o que se comia. Ela ilumina relações sociais, crenças religiosas, desigualdades, saberes técnicos e transformações culturais. Reconhecer sua importância é essencial para entender os caminhos que levaram à gastronomia moderna e à valorização contemporânea do comer como prática cultural.

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A alimentação na Idade Média era profundamente marcada pelas hierarquias sociais. Enquanto nobres desfrutavam de banquetes, carnes variadas e condimentos caros, os camponeses sobreviviam com o essencial: pão, mingaus de cereais, caldos simples, vegetais cultivados em hortas e, esporadicamente, laticínios e ovos. A carne, por vezes de caça, era restrita às classes mais altas, não apenas por questões econômicas, mas também por proibições legais, como as leis suntuárias, que visavam restringir o luxo de certos grupos sociais (MONTANARI, 2008; FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

O pão era o alimento central da dieta medieval. Feito com trigo, centeio, aveia ou cevada, seu tipo e qualidade variavam conforme a classe social. Os mais ricos consumiam pão de farinha branca peneirada, enquanto os mais pobres comiam versões rústicas, muitas vezes misturadas com casca de árvore ou leguminosas para render. Como afirma Jean-Louis Flandrin (2001), “o pão não era apenas alimento, era símbolo de coesão social e religiosa”, uma vez que também era consagrado nas missas como o corpo de Cristo.

As sopas (ou potagens) também ocupavam lugar de destaque na alimentação cotidiana. Eram feitas com o que se dispunha: nabos, repolhos, alho-poró, grãos demolhados e gordura de porco ou manteiga. Nas aldeias, a comida era preparada em caldeirões coletivos, e cada membro da família comia com as mãos ou com pedaços de pão que substituíam pratos (FLANDRIN; MONTANARI, 2001; MONTANARI, 2008).

Além da comida, os hábitos alimentares também eram ditados por normas religiosas. A Igreja Católica impunha inúmeros jejuns ao longo do ano, em que carne e laticínios eram proibidos. Nessas ocasiões, os peixes, sobretudo os salgados ou defumados, ganhavam espaço, assim como os bolos de grãos, frutas secas e leguminosas. Segundo Montanari (2008), “a gastronomia cristã medieval foi moldada por uma tensão constante entre prazer e penitência”.

Por fim, os gestos à mesa, os utensílios e as etiquetas também refletiam o status social. Enquanto os nobres utilizavam facas e colheres ornamentadas, os camponeses comiam com as mãos, partilhando tigelas comuns. Guardanapos inexistiam, e era comum limpar os dedos nos cabelos, nas roupas ou em pedaços de pão. No entanto, a partir do século XIII, surgem os primeiros códigos de conduta à mesa, sobretudo entre os cortesãos, como mostram os manuais de civilidade escritos por autores como Erasmo de Roterdã (FLANDRIN; MONTANARI, 2008).

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“A Idade Média ou Medieval é o período da história que se segue à Idade Antiga. Ela vai do século V (476) depois de Cristo, quando o Império Romano do Ocidente foi derrotado, até o século XV, quando o Império Romano do Oriente terminou.” (LEAL, 1998, p.29)

Na Idade Média, comer era mais do que saciar a fome: era um ato simbólico, social e espiritual. As mesas refletiam a hierarquia, os costumes e até as crenças da época. Enquanto os nobres desfrutavam de banquetes temperados com especiarias vindas de longe, o povo comum vivia de pães escuros, caldos e grãos. Foi um período de contrastes, onde o sabor começava a se misturar com o status, e a cozinha tornava-se uma expressão de poder e identidade.

Culinária e Gastronomia

Na Idade Média, a alimentação era muito mais que sustento: refletia fé, poder e posição social. Do pão simples dos servos aos banquetes da nobreza, cada refeição revelava a hierarquia e os valores de uma sociedade marcada pela religião, pela política e pela vida no feudo.

Hábitos à Mesa

Descubra como os grãos, o pão, o vinho, a cerveja, as carnes de caça e as especiarias moldaram a alimentação medieval. Conheça os rituais à mesa, as técnicas de preparo e os hábitos que marcaram a Europa entre a fé, a tradição e o sabor.

Alimentação Monástica

Dos mosteiros beneditinos à herança árabe na Península Ibérica, a alimentação medieval revela um percurso fascinante: da simplicidade frugal dos monges ao esplendor dos banquetes aristocráticos, onde sabores, símbolos e poder se encontravam à mesa.

Costumes à Mesa

Na Idade Média, a mesa revelava hierarquias: banquetes e especiarias para nobres, pão rústico e sopas simples para camponeses. Entre luxo e privação, a alimentação refletia desigualdades, normas religiosas e os primeiros códigos de conduta à mesa.

Legado e Permanências

Muito além de um período de estagnação, a Idade Média moldou sabores, rituais e símbolos que atravessaram séculos. Das especiarias ao serviço de banquetes, da cozinha monástica às crenças alimentares, esse legado ajudou a construir a base da gastronomia ocidental.

Outras Mesas Medievais

O mundo medieval foi tecido por aromas, rituais e crenças que ultrapassaram fronteiras. Das especiarias árabes às tradições chinesas, dos sabores sagrados da Índia à simplicidade japonesa, das raízes africanas ao milho mesoamericano, cada mesa contou uma história.

Considerações Finais

O mundo medieval foi tecido por aromas, rituais e crenças que ultrapassaram fronteiras. Das especiarias árabes às tradições chinesas, dos sabores sagrados da Índia à simplicidade japonesa, das raízes africanas ao milho mesoamericano, cada mesa contou uma história. Um banquete de culturas que ainda inspira o paladar do presente.

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Os mosteiros tiveram um papel fundamental na preservação e transmissão de práticas alimentares durante a Idade Média. Monges beneditinos, por exemplo, seguiam regras rígidas de alimentação, como se lê na Regra de São Bento, que definia horários, quantidades e tipos de alimentos permitidos. Segundo Montanari (2008), os monges comiam de forma frugal e em silêncio, praticando a temperança como virtude cristã. No entanto, com o tempo, muitos mosteiros tornaram-se centros de produção e refinamento culinário, criando queijos, vinhos, cervejas e conservas, muitos dos quais atravessam os séculos até hoje.

A alimentação monástica contribuiu não apenas para a manutenção da tradição agrícola, mas também para o desenvolvimento de técnicas de conservação e preparo dos alimentos. Em diversos mosteiros da Europa, as hortas medicinais e hortaliças eram cultivadas com conhecimento empírico e observação das estações do ano, garantindo a autossuficiência alimentar e o uso funcional dos ingredientes (FRANCO, 2004).

Outro fator determinante para os sabores medievais foi o intercâmbio cultural promovido pelas Cruzadas (séculos XI a XIII). Ao entrar em contato com as civilizações árabes, os europeus conheceram novos ingredientes como o arroz, o limão, o espinafre, a berinjela e o açúcar de cana. Também se encantaram com métodos de preparo mais refinados, como o uso de xaropes, geleias, pastas de frutas secas, molhos condimentados e sobremesas elaboradas. A herança árabe, particularmente evidente nas regiões da Península Ibérica, contribuiu com combinações agridoces, técnicas de destilação e produção de confeitos (FLANDRIN; MONTANARI, 2001; MONTANARI, 2008).

O domínio muçulmano na Península Ibérica por quase oito séculos (711–1492) gerou um legado culinário profundamente enraizado na gastronomia espanhola e portuguesa. Pratos como arroz com açafrão, doces à base de amêndoas e água de flor de laranjeira, e o uso de especiarias suaves como a canela, revelam a sofisticação herdada da cultura árabe (MONTANARI, 2008). Essa influência se espalhou, posteriormente, por toda a Europa cristã, especialmente por meio das cortes e das ordens religiosas.

Nas cortes europeias, a alimentação tornou-se um símbolo de poder e ostentação. Os banquetes medievais eram espetáculos visuais e sensoriais: animais assados inteiros, pratos coloridos com pigmentos naturais e esculturas de massa ou açúcar faziam parte da mise-en-scène[1]. As refeições eram anunciadas por músicos e acompanhadas de entretenimento, como danças e apresentações teatrais. Como observa Massimo Montanari, na Idade Média “o comer muito era visto como sinal de distinção social, de força e de nobreza”, e os grandes banquetes funcionavam como uma extensão da autoridade régia, onde o poder se manifestava pelo excesso e pela exibição de riqueza (MONTANARI, 2008; FLANDRIN; MONTANARI, 2001).

Os banquetes medievais eram verdadeiros espetáculos sociais e culturais, cuidadosamente planejados para exibir a riqueza, o poder e a sofisticação da nobreza. Realizados em grandes salões de castelos ou palácios, os convidados eram dispostos em mesas em formato de U ou de ferradura, deixando o centro livre para apresentações musicais, danças, jogos de palavras, encenações cômicas e números de malabarismo. A mesa do senhor e de seus hóspedes mais importantes ocupava o centro ou a extremidade mais nobre do salão, elevada em uma plataforma para destacar seu status.

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Todos os pratos eram dispostos de uma só vez sobre a mesa, formando uma verdadeira composição visual, carnes assadas inteiras, aves recheadas, peixes ornamentados com ervas e frutas, tortas decoradas e jarras de vinho. Era comum que os animais fossem servidos com penas ou cabeças intactas, como no caso do pavão, cujas plumas coloridas eram recolocadas após o cozimento para impressionar os convivas. Entre um serviço e outro, trovadores cantavam poemas, bufões faziam rir e, em ocasiões especiais, eram organizadas encenações mitológicas ou religiosas. A refeição era tanto um momento de alimentação quanto de afirmação de valores sociais, onde cada gesto, cada prato e cada som contribuía para a mise-en-scène do poder aristocrático.


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A alimentação medieval era baseada em grãos, hortaliças, leguminosas e cereais, especialmente trigo, centeio, cevada e aveia. O pão era o alimento central da dieta, tanto em quantidade quanto em simbolismo. Havia desde os pães rústicos e escuros consumidos pelos servos até os pães brancos refinados, reservados à elite (MONTANARI, 2008). O vinho e a cerveja eram consumidos diariamente, sendo o vinho mais comum nas regiões mediterrâneas e a cerveja predominante nos territórios germânicos e do norte europeu (FRANCO, 2004).

Carnes de caça, como javalis, cervos, coelhos, eram reservadas à nobreza, que detinha o direito à caça. Já porcos, cabras, frangos e peixes podiam ser criados ou pescados por camponeses, especialmente em dias sem proibição religiosa. Os dias de jejum, impostos pela Igreja, eram numerosos e nesses períodos o consumo de carne era proibido. Em seu lugar, entravam os peixes, ovos, leite e derivados. As regras religiosas, como o jejum da Quaresma ou as abstinências às sextas-feiras, moldavam profundamente o calendário alimentar da população europeia (MONTANARI, 2008).

As refeições eram, em geral, duas por dia: uma no final da manhã e outra ao anoitecer. A mesa nobre era farta e teatralizada. Utilizava-se uma toalha longa, e cada comensal comia com as mãos, utilizando uma faca individual. As colheres eram coletivas ou inexistentes; os garfos ainda não eram amplamente utilizados. O sal era um bem precioso, empregado não apenas para temperar, mas também como conservante e como símbolo de distinção social (FLANDRIN; MONTANARI, 2001; MONTANARI, 2008).

O uso de especiarias, como canela, cravo, noz moscada, gengibre, pimenta, açafrão e cominho, era frequente nas cozinhas senhoriais. Esses ingredientes, importados do Oriente, não apenas conferiam sabor e cor aos pratos, como também indicavam prestígio e riqueza. Além disso, acreditava-se que as especiarias tinham propriedades medicinais e ajudavam a equilibrar os humores do corpo, segundo a teoria galênica, que dominava a medicina da época (MONTANARI, 2008).

As técnicas de cocção incluíam fervura, assamento em fornos de barro, fritura em banha e cozimento prolongado em caldeirões sobre o fogo. Grande parte dos pratos era servida em consistência de sopas ou pastas. A doçaria utilizava mel como principal adoçante até a chegada mais intensa do açúcar, a partir das Cruzadas (FRANCO, 2004).

Nas feiras e mercados urbanos, começaram a surgir os primeiros ofícios especializados: padeiros, cervejeiros, queijeiros, açougueiros e cozinheiros profissionais. Muitos atuavam a serviço dos castelos ou dos mosteiros, preparando grandes banquetes para festas religiosas, casamentos ou recepções políticas. O ofício de cozinheiro, outrora considerado servil, passou a adquirir certo prestígio social, especialmente quando associado à arte do equilíbrio dos sabores e ao uso criativo das especiarias (FLANDRIN; MONTANARI, 2001; FRANCO, 2004).

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CAPA: Adriana Tenchini


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Introdução, Contexto Histórico e Estrutura Social

Desde o início, com a fragmentação do poder imperial e as invasões bárbaras, a Europa viu-se diante de um novo cenário: povos germânicos como visigodos, vândalos, hunos e francos trouxeram suas próprias tradições, crenças e práticas alimentares. Essas culturas se misturaram à herança romano-cristã, dando origem a uma nova forma de viver e comer. A alimentação passou a ser um elemento central na estrutura social, carregada de significados religiosos, políticos e simbólicos.

A Idade Média é tradicionalmente dividida em dois grandes períodos: a Alta Idade Média (do século V ao X) e a Baixa Idade Média (do século XI ao XV):

Alta Idade Média (séculos V ao X)

Durante a Alta Idade Média, a Europa Ocidental consolidou o sistema feudal como base da organização socioeconômica. Nesse período, a autoridade da Igreja Católica superava, muitas vezes, o poder dos reis, ditando regras de conduta e influenciando profundamente os costumes cotidianos, inclusive os alimentares (LEAL, 1998).

Enquanto isso, no Oriente, os Impérios Bizantino e Árabe floresciam. Os árabes, em particular, destacaram-se por seu vasto conhecimento nas áreas da medicina, filosofia, botânica e alquimia. Esse saber técnico e espiritual influenciaria posteriormente a gastronomia europeia com a introdução de ingredientes, técnicas e temperos até então desconhecidos no Ocidente (FRANCO, 2004).

Baixa Idade Média (séculos XI ao XV)

A Baixa Idade Média testemunhou o auge e a lenta decadência do feudalismo. A expansão comercial, o surgimento da burguesia e o fortalecimento das monarquias nacionais começaram a desenhar uma nova estrutura política e econômica. Com isso, também se intensificaram os intercâmbios culturais, especialmente a partir das Cruzadas, expedições militares e religiosas que colocaram cristãos e muçulmanos em contato direto.

Foi nesse contexto que a alimentação medieval se tornou mais variada e complexa, refletindo as diferenças entre estamentos sociais, os preceitos religiosos e os vínculos com o sagrado e o profano. A mesa do camponês, do monge e do nobre ilustravam perfeitamente a estrutura hierárquica da sociedade, em que comer era, antes de tudo, um ato político e simbólico (FRANCO, 2004).

A estrutura do feudalismo e a organização social

A economia medieval estava ancorada na agricultura, tendo o feudo como unidade básica de produção. A relação entre os senhores de terra (suseranos) e os nobres subordinados (vassalos) estruturava o poder político e militar. Essa estrutura de vassalagem e suserania era rígida e quase impermeável à mobilidade social (LEAL, 1998).

A sociedade medieval dividia-se em estamentos claramente definidos:

  • O rei, embora símbolo da unidade territorial, não exercia centralidade política;
  • Os nobres, com títulos como duques, viscondes e barões, eram guerreiros que dominavam vastas extensões de terra;
  • O clero, composto por padres, bispos, monges e abades, era responsável pela salvação espiritual e pelo controle do saber escrito;
  • Os senhores feudais, que podiam acumular poder militar, jurídico e até religioso;
  • Os servos, que representavam cerca de 90% da população, trabalhavam a terra em troca de proteção e uso de parte da produção.

Essa estrutura definia também os hábitos alimentares. O acesso aos ingredientes, a forma de preparo, os utensílios disponíveis e os horários das refeições estavam diretamente ligados ao estamento social de cada indivíduo (FRANCO, 2004).

Nos mosteiros, a Igreja reunia poder material e espiritual. Chegou a deter um terço de todas as terras da Europa Ocidental, sustentada por doações, tributos e dízimos (LEAL, 1998, p. 31). Ali, a prática alimentar refletia tanto a busca pela espiritualidade quanto a opulência acumulada com o tempo. Nos dias santos, os mosteiros ofereciam banquetes suntuosos, enquanto em períodos de jejum a dieta era frugal e desprovida de carnes.

Os servos, por sua vez, viviam com parcos recursos, habitavam cabanas rústicas e compartilhavam o espaço com os animais. Faziam duas refeições diárias, geralmente à base de caldos, cereais e pães escuros, os ingredientes refinados estavam fora do alcance da maioria. Os instrumentos de trabalho agrícola e culinário eram simples: foices, pás, charruas e caldeirões. Em tempos de escassez, comiam raízes, cascas de árvores e até palha (LEAL, 1998, p. 30).

A sociedade medieval vivia sob constantes desafios: guerras frequentes, fome, doenças, catástrofes naturais e invernos rigorosos. A esperança média de vida girava em torno dos 34 anos. A ignorância, alimentada pela falta de acesso ao conhecimento, gerava medo e reforçava a crença de que tudo, da colheita ao adoecimento, era regido pela vontade divina. Nesse cenário, a comida era mais do que sustento: era expressão de fé, poder, distinção social e pertencimento.

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Eu sou graduada e pós graduada na área de gastronomia e compilei todos os anos de estudo em apostilas que estou transformando em um livro “Diário da Gastronomia. De Tudo… Um Pouco.” (Para saber mais acesse a página A Gastrônoma, A Autora, A Terapeuta, A Multiface). Através deste site postarei informações importantes que contribuirá para aumentar o conhecimento dos leitores na área de gastronomia A parte teórica pode ser encontrada na páginaConceitos e Teorias“. Quanto à prática, os leitores podem ir treinando com asReceitaspostadas. Todas as receitas foram previamente testadas.


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CAPA: Imagem Adriana Tenchini


REFERÊNCIAS:

FRANCO, Ariovaldo. De caçador a gourmet: uma história da gastronomia. São Paulo: Senac, 2004.

LEAL, Maria Leonor. História da gastronomia. São Paulo: Ática, 1998.

As chamadas civilizações pré-colombianas, termo que se refere às culturas das Américas antes da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, incluem sociedades altamente organizadas como os maias, astecas e incas. Apesar de não pertencerem cronologicamente à Idade Antiga, esses povos desenvolveram, entre 2.000 a.C. e o século XVI, sistemas agrícolas e alimentares de impressionante sofisticação. Por essa razão, são aqui incluídos como uma extensão temática, não pela linha do tempo, mas pela profundidade de sua contribuição à história da alimentação.

Cidade Maia. Imagem Adriana Tenchini.

O impacto das civilizações americanas na gastronomia mundial só se tornou efetivo durante a Idade Moderna, com as Grandes Navegações e o consequente intercâmbio alimentar entre o Velho e o Novo Mundo, conhecido como troca colombiana. A partir do século XVI, produtos como milho, batata, tomate, cacau, pimentas e quinoa cruzaram oceanos, transformando as culinárias europeia, africana e asiática. Ao mesmo tempo, técnicas agrícolas indígenas passaram a ser estudadas e reinterpretadas ao redor do globo.

Assim, a abordagem dessas civilizações neste capítulo não tem como objetivo inseri-las cronologicamente na Antiguidade, mas sim destacar as raízes americanas de alguns dos mais importantes ingredientes da cozinha contemporânea mundial, cuja presença nas mesas só foi possível após o contato colonial. Com isso, este subcapítulo funciona como ponte entre a Antiguidade e a Idade Moderna, ampliando o olhar sobre o papel da alimentação na formação das culturas.

Contexto Histórico e Geográfico

As civilizações maia, asteca e inca floresceram nas Américas muito antes do contato com os europeus, desenvolvendo modelos agrícolas, políticos e espirituais próprios. Na Mesoamérica, região que abrange o sul do México, Guatemala, Belize e partes de Honduras e El Salvador, destacaram-se os maias e os astecas. Já nos Andes centrais, especialmente no atual Peru, Bolívia, Equador e norte do Chile e da Argentina, surgiu o império inca.

Apesar do isolamento geográfico em relação ao Velho Mundo, essas civilizações desenvolveram agricultura intensiva, arquitetura monumental, sistemas de escrita (no caso maia), redes de redistribuição e rituais sofisticados. A alimentação era parte vital dessas estruturas, simbolizando os vínculos entre sociedade, natureza e cosmos (MONTANARI, 2008).

Formação Cultural e Raízes Agrícolas

Patamares de cultivo dos Incas. Imagem Adriana Tenchni.

As bases alimentares dessas culturas foram lançadas no período arcaico, com a domesticação de plantas como milho, feijão, abóbora, batata, quinoa, amaranto e chia. Na Mesoamérica, os maias aperfeiçoaram técnicas herdadas dos olmecas e zapotecas, como a milpa, sistema de consórcio agrícola envolvendo milho, feijão e abóbora, além do cultivo em terrazas. Já nos Andes, os incas consolidaram práticas como os andenes (terraços agrícolas), aproveitamento de microclimas e seleção genética de cultivos.

Organização Política e Alimentação como Estrutura de Poder

As estruturas políticas dessas civilizações moldaram o modo como os alimentos eram produzidos, distribuídos e consumidos:

  • Maia – organização em cidades-estados autônomas, com produção descentralizada e controle de excedentes por elites, usados em rituais e banquetes.
  • Asteca – império centralizado, com forte sistema tributário e mercados supervisionados pelo Estado. Utilização de chinampas[1]
  • Inca – império teocrático com produção dividida entre terras estatais, religiosas e populares. A redistribuição, baseada no sistema de mita[2],

Ingredientes Fundamentais e Alimentos Regionais

Apesar das diferenças geográficas, essas civilizações compartilhavam a valorização do milho como alimento sagrado e estruturante da dieta. Contudo, o ecossistema e a biodiversidade de cada região ofereceram combinações únicas:

  • Maia – O milho era preparado como pozol (massa fermentada em água), tamales e tortillas. Os maias utilizavam cacau com frequência ritual e alimentícia, muitas vezes misturado com pimenta ou baunilha. Ervas aromáticas, frutas tropicais (como sapoti e papaia), peixe e caça complementavam a dieta. Usavam mel de abelha nativa (Melipona) como adoçante e alimento medicinal.
  • Asteca – A dieta asteca era urbana e diversificada, com base no milho nixtamalizado[3], acompanhado de feijão, abóbora, amaranto, chia e pimentas. Além disso, exploravam intensamente os recursos aquáticos do lago Texcoco: rãs, axolotes (salamandras endêmicas), ovos de insetos aquáticos (ahuautle), algas (espirulina) e camarões de lagoa. Chapulines (grilos tostados), frutas como abacate, goiaba, tomate e sapoti eram consumidos cotidianamente.
  • Inca – Nos Andes, o milho era cozido, tostado ou fermentado. A batata, com suas centenas de variedades, era o verdadeiro esteio da alimentação. Técnicas como o chuño[4] e a moraya[5] asseguravam a conservação por anos. A quinoa e o tarwi eram fontes de proteína vegetal. As carnes mais comuns vinham de camelídeos (lhama e alpaca), cuys e animais selvagens. Frutas como chirimoya, lúcuma e aguaymanto (physalis) completavam a dieta.

Esses alimentos não apenas sustentavam populações numerosas, mas também estavam impregnados de significados cosmológicos.

Técnicas Culinárias e Inovações

Cada cultura desenvolveu técnicas culinárias engenhosas e eficazes, muitas das quais ainda são usadas ou inspiraram práticas modernas:

  • Maia: torrefação, cozimento a vapor em folhas, fermentação e defumação leve.
  • Asteca: nixtamalização (que transforma o milho e aumenta seu valor nutricional), secagem solar, cozimento em pedras e uso de cinzas e cal.
  • Inca: liofilização[6] natural (chuño), fermentação de frutas e cereais (chicha), pachamanca[7] (cozimento subterrâneo), tostadura e desidratação em altitude.

Utensílios e Cultura Material da Cozinha

Mesmo sem o uso de metais fundidos, essas civilizações criaram instrumentos culinários duradouros e eficientes:

  • Pedra: metate e molcajete (para moagem e tempero), comal (chapa para assar).
  • Cerâmica: potes com tampas, jarras para bebidas, utensílios decorados com símbolos religiosos ou astronômicos.
  • Madeira e fibras: varetas, colheres, redes e cestos para coleta e secagem.
  • Folhas naturais: de milho, bananeira e outras, para embalar alimentos (tamales, bolinhos, pacotes para cozimento).

Alimentação, Rituais e Espiritualidade

A relação com o alimento era simbólica, com significados cosmológicos profundos. Comer era também um ato religioso, em que se expressava a reciprocidade com a natureza e com os deuses:

  • Maia: o milho era a matéria-prima dos seres humanos segundo o Popol Vuh (texto sagrado). O cacau era usado como bebida ritual e como moeda. Alimentos eram ofertados em altares, tumbas e festivais agrícolas.
  • Asteca: sacrifícios humanos eram seguidos por banquetes cerimoniais. Alimentos representavam deuses (como Huitzilopochtli) e eram partilhados em datas específicas do calendário solar-ritual. A produção agrícola obedecia aos ritmos lunares e solares.
  • Inca: o alimento era redistribuído pelo Estado durante festas como o Inti Raymi (solstício de inverno), reforçando a relação entre o Sapa Inca e o deus Sol. A chicha[8] era oferecida aos mortos e derramada no chão como oferenda à Pachamama (Mãe Terra).

Logística Alimentar e Armazenamento

A capacidade de conservar alimentos foi decisiva para o sucesso dessas civilizações:

  • Colcas incas: armazenavam batatas liofilizadas, milho seco, carne de lhama, quinoa e frutas em locais arejados e altos.
  • Tambos: entrepostos nas rotas do império, abasteciam exércitos e populações em travessias.
  • Chinampas astecas: hortas construídas sobre lagoas, produtivas o ano todo.
  • Redistribuição cerimonial: mantinha coesão política e segurança alimentar, sendo parte essencial da governança.

Legado Gastronômico e Influências Contemporâneas

A culinária dessas civilizações continua viva, seja no campo simbólico, seja nos ingredientes e técnicas:

  • A nixtamalização é base da tortilla e do tamal modernos.
  • O chuño é usado até hoje nas comunidades alto-andinas.
  • Ingredientes como quinoa, amaranto, chia, cacau e batata conquistaram o mundo e são redescobertos como “superalimentos”.
  • A gastronomia peruana, com reconhecimento internacional, se apoia no uso criativo de produtos nativos andinos.
  • As práticas mesoamericanas de cultivo intercalado e chinampas inspiram modelos sustentáveis de agricultura urbana.

Povos Herdeiros e Continuidade Cultural

As civilizações maia, asteca e inca não desapareceram, transformaram-se. Seus herdeiros continuam presentes em grande número, preservando línguas, práticas agrícolas, culinária e espiritualidade.

  • Maia: cerca de 7 milhões de pessoas se identificam como maias, vivendo principalmente na Guatemala, sul do México, Belize e Honduras. Entre os principais povos estão os Quiché, Kaqchikel, Yucatecos, Tzotzil e Tojolabal. Mantêm práticas como a produção de tamales, uso ritual do cacau e celebrações agrícolas ancestrais.
  • Asteca (Mexica): os nahuas, falantes do náhuatl, são os principais descendentes dos astecas e vivem em vários estados do México, como Puebla, Hidalgo e Veracruz. Ainda cultivam milho, chia, amaranto e preparam alimentos como tamales, tortillas e molhos com pimenta. O náhuatl permanece vivo como língua falada por mais de 1,5 milhão de pessoas.
  • Inca: os quechuas e aimarás habitam regiões montanhosas do Peru, Bolívia, Equador, norte do Chile e da Argentina. Com comunidades numerosas e resilientes, preservam a produção de batatas, quinoa, chuño e chicha, além de rituais ligados à Pachamama. Os Q’ero, grupo quechua do Peru, são reconhecidos como guardiões da cosmovisão incaica.

Essa continuidade desafia o mito da extinção e demonstra que, apesar das profundas transformações históricas, essas civilizações permanecem vivas, adaptando-se e resistindo, com seus saberes alimentares como um dos maiores legados.


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REFERÊNCIAS:

Idade Moderna

Houve um grande desenvolvimento artístico e científico devido ao Renascimento. Nesta época, viajar passou a ser uma oportunidade para se ter mais conhecimento, aprender novos idiomas. No século XVI surgiu o costume de mandar os jovens aristocratas ingleses acompanhados de professores ou tutores para que se obtivesse um maior conhecimento do mundo, com a finalidade de complementar sua formação e adquirir certas experiências. Essa viagem era conhecida como gran-tour, durava em torno de 3 a 5 anos e se fazia por distintos países europeus. Desta atividade nascem as palavras: turismo, turista etc.

As peregrinações continuaram durante a Idade Moderna e apareceram os primeiros alojamentos com o nome de hotel (palavra francesa que designava os palácios urbanos). Foi durante esta época que ocorreu as grandes expedições marítimas de espanhóis, britânicos e portugueses, despertando o interesse por grandes viagens e era chamada por muitos de turismo comercial. Ressurgiram as antigas termas, que haviam decaído durante a Idade Média e a motivação passa a ser por diversão e entretenimento, além de saúde.

    Com a Revolução Industrial, a burguesia consolida-se voltando a dispor de recursos econômicos e tempo livre para viajar. As inovações tecnológicas promovem uma revolução nos transportes, que possibilita substituir a tração animal pelo trem a vapor, tendo as linhas férreas que percorrem com rapidez as grandes distâncias cobrindo grande parte do território europeu e norte-americano. Também o uso do vapor nas navegações reduz o tempo dos deslocamentos e a Inglaterra saiu na frente sendo a primeira a oferecer viagens que atravessavam os oceanos.

    Durante este período as atividades de lazer e recreação tornam-se atrativos para o turismo. Houve também a criação dos cassinos na Europa, que ajudaram no crescimento do turismo. Surgiu na Europa o turismo de montanha ou saúde e se construíram famosos sanatórios e clínicas privadas europeias.

    Segundo BADARÓ, (2003, p.37):

    Ao longo do século XIX diversas foram as viagens realizadas, sempre em busca de cultura e recreação, os europeus passaram a visitar a África e os Estados Unidos. Os trens eram sinônimos de rapidez e elemento facilitador da atividade turística. Os navios exerciam maior fascínio entre a população. Surge, então, a classe média, com salários melhores e maior possibilidade de gastos com entretenimento, como o futebol e corridas a cavalo.

    Em 1840, Thomas Cook, que é considerado o pai do Turismo Moderno, promoveu a primeira viagem organizada da história e foi realizada em um trem fretado. Suas iniciativas pioneiras acabaram sendo copiadas em diversas partes do mundo. Em 1951, Thomas Cook criou a Agência de Viagens “Thomas Cook and son”, que cresceu rapidamente, oferecendo viagens acompanhadas ao continente e, depois, aos Estados Unidos e a todo mundo. A companhia continua a ser uma das maiores organizações turísticas.

    O turismo no mundo teve uma época de estagnação durante as duas grandes guerras mundiais. Mas devido a Segunda Guerra Mundial ocorreu a introdução do avião como um novo meio de transporte. O transporte aéreo desponta como a preferência dos turistas devido a sua agilidade de locomoção. Começa a fabricação em massa de ônibus e carros, e nesta época, também, as praias e os rios transformam-se em centros de turismo na Europa.

    Na segunda metade do século XX, a atividade turística expandiu-se pelo mundo inteiro. O número de agências de viagens aumentou consideravelmente em consequência do crescimento das companhias aéreas, que, incapazes de estabelecerem suas próprias filiais preferiram abrir o mercado ao varejo.

    Sobre o turismo na atualidade, GOELDNER, (2002, p.56), considera:

    Atualmente, as guerras, as revoltas e o terrorismo são prejudiciais ao turismo. Paz, prosperidade, um mercado eficaz e custos de viagem razoáveis permanecem sendo os ingredientes essenciais para o crescimento universal do turismo.

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    O texto apresentado nesta página é um resumo de partes do Livro “Planejamento e Organização de Eventos: Da Teoria à Prática.” Autora: Adriana Tenchini (Ebook disponível na Amazon).


    Meu nome é Adriana Tenchini, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais. Sou uma amante do conhecimento e tenho como formação os cursos: Graduação em Eventos, Bacharelado em Publicidade e Propaganda, Graduação em Gastronomia, Graduação em Cozinha Contemporânea, MBA em Administração Estratégica, Pós-graduação em Gestão da Qualidade em Gastronomia e vários cursos extracurriculares nas áreas de eventos, gastronomia, design e web design. Além da minha formação acadêmica, sou produtora de conteúdo, escritora, espírita, terapeuta holística, produtora de laticínios vegetais e mãe.

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    REFERÊNCIAS:

    BADARÓ, Rui Lacerda. Direito do Turismo: História e Legislação no Brasil e no Exterior. 2ª edição. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

    GOELDNER, Charles R.; RITCHIE, J. R. Brent; MCINTOSH, Robert W; Trad. COSTA Roberto Cataldo Costa. Turismo: Princípios, Práticas e Filosofias, 8ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2002.,

    As invasões bárbaras ocorridas durante o ano de 456 d.C. ocasionou o colapso do Império Romano iniciando-se a Idade Média ou Idade das Trevas. Poucas pessoas se arriscavam a viajar neste período, porque as viagens eram perigosas devido aos assaltantes de estradas, o que obrigava as pessoas a transitarem em caravanas. Depois de um início difícil, por causa dos conflitos, o turismo voltou a crescer. Esse crescimento foi por causa das peregrinações religiosas. Houve uma intensa demanda por viagens à Jerusalém, a Igreja do Santo Sepulcro.

    As peregrinações cresceram muito na Europa a partir da descoberta da tumba do apóstolo São Thiago em 814 d.C, inclusive um dos roteiros turísticos mais realizados era o do Caminho de Santiago da Compostela, criado para se chegar até o sepulcro do apóstolo.

    O peregrino francês Aymeric Picaud escreveu um roteiro de viagem sobre a travessia partindo da França, e esse roteiro é considerado o primeiro a ser impresso na Europa. Havia também a peregrinação realizada à cidade santa de Meca pelos muçulmanos, que deslocavam milhares de pessoas.

    Aos poucos surgiram as cidades feudais e importantes festas religiosas, conseguindo atrair peregrinos de diversos pontos do país. Por causa das festas, chegavam mercadores, o que acabou originando as feiras. As feiras chamavam a atenção de todos os habitantes e no período de realização das mesmas, as estalagens, pousadas e outros meios de hospedagem ficavam lotados. As feiras geravam grande movimentação econômica.

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    REFERÊNCIAS:

    BADARÓ, Rui Lacerda. Direito do Turismo: História e Legislação no Brasil e no Exterior. 2ª edição. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

    GOELDNER, Charles R.; RITCHIE, J. R. Brent; MCINTOSH, Robert W; Trad. COSTA Roberto Cataldo Costa. Turismo: Princípios, Práticas e Filosofias, 8ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2002.,

    Em torno de 4000 a.C., surgiram os Sumérios. Eles foram os primeiros povos a habitar a região da Mesopotâmia, área compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, hoje é o atual Iraque. Os Sumérios viviam como nômades e ao chegar na região mesopotâmica, encontraram água e comida em abundância, além de segurança, pois a área é cercada por algumas cadeias montanhosas ao norte e à oeste, pelo Golfo Pérsico ao sudoeste, e pelo deserto da Síria ao sul e leste. Isso os dava uma grande proteção a ataques de outros povos que viviam nas proximidades dali. Os Sumérios são considerados por alguns estudiosos como os criadores das viagens.

    Segundo BADARÓ: “Os Sumérios responsáveis pela ideia e utilização do dinheiro nas transações comerciais, pela invenção da escrita cuneiforme e da roda, influenciaram o surgimento do setor turístico, incentivado a partir da utilização do dinheiro como pagamento de transporte e hospedagem.”

    Os Egípcios surgiram da união das populações do vale do rio Nilo e formaram dois reinos: Alto Egito – Terra do Sul e Baixo Egito – Terra do Norte. Em 3200 a.C., ocorreu a unificação destes reinos, que passou a ser submetido a autoridade de um Faraó. A época dos Faraós foi dividida em três períodos: Antigo Império (3200 a.C. a 2052 a.C.), Médio Império (2052 – 1570 a.C.) e Novo Império (1570 a.C. – 525 a.C.). O Antigo Império foi de grande importância para o turismo porque durante este período ocorreu as grandes construções no Egito, tais como: as três pirâmides de Gizé (Quéops, Quéfrem e Miquerinos), a pirâmide em degraus de Djoser, a Esfinge e o complexo de pirâmides de Abusir.

    As Pirâmides de Gizé. Imagem Adriana Tenchini

    Segundo GOELDNER, (2002, p.43):

    Essas grandes maravilhas ao ar livre começaram a atrair muitas pessoas já no Império Novo, de 1600 a 1200 a.C. “Cada monumento era um local sagrado, de forma que os visitantes sempre oravam por alguns momentos, mesmo que sua primeira motivação fosse a curiosidade e a diversão desinteressada, e não a religiosidade.”
    Eles deixaram evidências de suas visitas, em inscrições como as que seguem: “Hadnakhte, escriba do tesouro, veio para fazer uma excursão e divertir-se no oeste de Mênfis, com seu irmão, Panakhti, escriba do vizir.” Como outros turistas através dos tempos, eles sentiram a necessidade de deixar marcas de sua visita. Alguns pintaram seus nomes apressadamente, outros riscaram-nos na pedra macia com um objeto de ponta. Este último método era tão comum que o termo técnico que usamos para tais rabiscos é graffiti, ou “arranhão”, em italiano.

    Durante o período do Médio Império ocorreu a expansão territorial e as viagens comerciais com os fenícios, sírios e cretenses, promovendo assim um intercâmbio cultural entre essas nações. Muitas destas viagens eram feitas através do Rio Nilo, surgindo assim, os primeiros cruzeiros. Foram encontrados relatos históricos sobre uma viagem realizada pela rainha Hatshepsut às ilhas de Punt através do Nilo. Estes relatos contem textos e baixos-relevos registrados nas paredes do templo de Deit El Bahari, em Luxor. Segundo as descrições, a viagem da rainha foi com propósitos de paz e turismo. O Médio Império sofreu uma brusca interrupção por volta de 1570 a.C. com a invasão dos hicsos – povo nômade da Ásia. O Novo Império resultou de um processo de união do Egito contra estes povos.

    Os fenícios tiveram a sua importância no turismo pelas suas viagens navais. Eles criaram um verdadeiro império marítimo e em 800 a.C. já havia construído uma rede de postos comerciais ao longo do Mediterrâneo. Este grande sucesso ocorreu por:

    • A região da Fenícia era rica em cedro, madeira utilizada para construir barcos;
    • Eram mestres armadores, construindo embarcações de madeira tubulares, com uma única vela quadrada;
    • Sua população possuía grandes conhecimentos da astronomia;
    • Atuavam como intermediários para seus vizinhos, fazendo o abastecimento de matérias-primas e bens acabados, e de vez em quando, alguns passageiros;
    • Inventaram o alfabeto (mais fácil que a escrita cuneiforme), que era composto de 22 sinais que correspondiam às consoantes e que mais tarde foi aperfeiçoado por outros povos.

    Essas viagens foram registradas através de périplos ou diários de bordo, e sabe-se que este povo navegou na península Ibérica, Inglaterra, mar do Norte e também em torno da África, o que acabou estabelecendo importantes roteiros medievais. Os gregos se beneficiaram da experiência naval e comercial dos fenícios ao colonizá-los e aos poucos foram adquirindo controle do Mediterrâneo Ocidental.

    Os gregos davam muita importância ao turismo e ao tempo livre, os quais eram dedicados à cultura, diversão, religião e esportes. É por este motivo que muitos autores consideram que a história do turismo teve seu início na Grécia, por volta do século VII a.C. O povo grego foi uma das culturas mais voltadas a viagens, eles faziam deslocamentos constantes para visitar seus santuários (em busca de cura ou aconselhamento), para assistir e participar de espetáculos culturais, cursos, festivais e jogos, ou ainda, para realizar viagens comerciais, inclusive com os chineses onde tiveram contato com a bússola e a pólvora (o que influenciou posteriormente aos europeus conquistarem a América). Muitas das viagens para a Grécia eram realizadas através do mar mediterrâneo e como a maioria das cidades-estado gregas foram fundadas ao longo da costa, estabeleceram assim, importantes rotas comerciais. As viagens por meio de estradas (que ligavam as cidades do interior aos portos) eram estafantes, feitas por animais e escravos, que transportavam pertences e suprimentos.

    Cidade Grega. Imagem Adriana Tenchini

    Uma das viagens mais importantes da época eram as que se realizavam para assistir as olimpíadas, que aconteciam a cada quatro anos na cidade de Olímpia. Esses jogos iniciaram-se em 776 a.C. e eram realizados para homenagear Zeus através de competições atléticas, onde se deslocavam milhares de pessoas, misturando religião e esportes. Os jogos movimentavam toda região criando pontos de alojamento e alimentação para servir os turistas. Surgiram assim, hospedarias muito precárias ao longo das estradas e nos portos.

    Segundo GOELDNER, (2002, p.46):

    As hospedagens gregas ofereciam pouco mais do que abrigo para a noite. Um hóspede que quisesse se lavar tinha que carregar sua própria toalha até o outro lado da rua, no banho público mais próximo. Uma vez chegando lá, tirava as roupas em um vestiário e as deixava aos cuidados de alguém, para que não fossem roubadas enquanto se banhava. “O banho, em si… era uma grande bacia na qual ele se curvava enquanto um atendente jogava água sobre ele”.

    Os turistas eram muito bem recebidos e instalados pelos gregos, porque segundo uma lenda da época, qualquer um deles poderia ser Zeus (Deus grego) que participava de todos os jogos sem se identificar. Outro ponto importante: Como cada cidade-estado grega possuía uma moeda própria (o que dificultava as transações comerciais) surgiram as primeiras casas de câmbio gregas, através de pessoas dispostas a realizar a troca de moedas.


    Apesar dos desconfortos e perigos, as pessoas viajavam pela Grécia. Através do mar, tinham que se preocupar com tempestades e piratas; e pela terra, com estradas ruins, as pousadas sombrias e os bandidos nas estradas. As pessoas viajavam a negócios, para curas ou para entretenimento em festejos, e tinham uma pequena minoria, que viajava por amor ao próprio ato de viajar, como Heródoto, a primeira pessoa importante a escrever sobre viagens.

    Durante o Império Romano o turismo ganhou ainda mais força, pois era utilizado como meio de lazer, comércio e descobertas. Os Romanos foram os primeiros povos a criarem locais exclusivamente destinados ao repouso, com finalidades terapêuticas, religiosas e esportivas. Eles eram assíduos de grandes espetáculos, ocorridos nas arenas e nos teatros; frequentavam termas para resolver problemas de saúde e viajavam de férias para a costa.

    Fatos que contribuíram para que o turismo crescesse nesta época:

    • A Pax Romana – Augusto César declarou o fim das guerras de conquista;
    • Prosperidade econômica – que possibilitou a alguns cidadãos meios financeiros e tempo livre;
    • Construção de estradas – desenvolvimento de vias de tráfego, com construção de estradas (Figura 1.3) e hospedarias.

    Segundo GOELDNER, (2002, p.45):

    Os romanos começaram a construir estradas em torno de 150 a.C. Elas tinham uma construção bastante elaborada. Eram planejadas utilizando um nivelador com pêndulos de chumbo. Soldados e trabalhadores cavavam o leito e colocavam pedras e concreto uniformemente. As pedras de pavimentação eram postas por cima e construíam-se meios-fios de pedra e um contorno inclinado, para escoar a água da chuva. Algumas dessas estradas ainda são usadas.
    Já na época do imperador Trajano (que reinou de 98 a 117 d.C.), as estradas romanas abrangiam uma rede de aproximadamente 80 mil quilômetros. Elas cercavam o Império Romano, estendendo-se desde próximo à Escócia e Alemanha, ao sul, dentro do Egito e até ao longo das margens do mar Mediterrâneo. No oriente, as estradas iam até o Golfo Pérsico, no que agora são o Iraque e Kuwait.
    Os romanos podiam viajar até 160 km por dia trocando de cavalos em postos de descanso a cada 13 ou 14 km. Eles também viajavam para conhecer templos famosos na região do Mediterrâneo, especialmente as Pirâmides e os monumentos do Egito. A Grécia e a Ásia Menor eram destinações famosas, oferecendo os Jogos Olímpicos, os banhos medicinais e resorts litorâneos, as produções teatrais, os festivais, as competições atléticas e outras formas de diversão e entretenimento. A combinação romana de império, estradas e necessidade de supervisão desse império, de suas riquezas, lazer, atrações turísticas e o desejo de viajar, criaram uma demanda por hospedagens e outros serviços de viagem que vieram a existir como uma forma inicial de turismo.

    Com o declínio do Império Romano e as constantes guerras que surgiram, as estradas foram destruídas e o comércio ficou escasso, marcando assim o fim do período inicial do turismo.

    Saiba Mais: Evolução do Turismo e dos Eventos Através dos Tempos

    O texto apresentado nesta página é um resumo de partes do Livro “Planejamento e Organização de Eventos: Da Teoria à Prática.” Autora: Adriana Tenchini (Ebook disponível na Amazon).


    Meu nome é Adriana Tenchini, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais. Sou uma amante do conhecimento e tenho como formação os cursos: Graduação em Eventos, Bacharelado em Publicidade e Propaganda, Graduação em Gastronomia, Graduação em Cozinha Contemporânea, MBA em Administração Estratégica, Pós-graduação em Gestão da Qualidade em Gastronomia e vários cursos extracurriculares nas áreas de eventos, gastronomia, design e web design. Além da minha formação acadêmica, sou produtora de conteúdo, escritora, espírita, terapeuta holística, produtora de laticínios vegetais e mãe.

    Para saber mais acesse a página A Gastrônoma, A Autora, A Terapeuta, A Multiface.


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    FONTES IMAGENS: Adriana Tenchini


    REFERÊNCIAS:

    BADARÓ, Rui Lacerda. Direito do Turismo: História e Legislação no Brasil e no Exterior. 2ª edição. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

    GOELDNER, Charles R.; RITCHIE, J. R. Brent; MCINTOSH, Robert W; Trad. COSTA Roberto Cataldo Costa. Turismo: Princípios, Práticas e Filosofias, 8ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2002.