Gastronomia
Molecular
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Iniciada oficialmente em 1988, a gastronomia molecular é definida como a ciência que estuda o processo de preparação dos alimentos e como podemos melhorar ou gerar novos processos. Foi idealizada por Hervé This (1955-), que é um físico-químico francês e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (Inra) e do Laboratório de Química das Interações Moleculares de Collége de France, um apaixonado por gastronomia e, por Nicholas Kurti (1908-1998), um físico húngaro, radicado na Inglaterra, que trabalhou no projeto da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, também gourmet.
A gastronomia tecno emocional, denominada por muitos como gastronomia molecular foi desenvolvida procurando estimular o máximo de sentidos humanos durante o ato de comer. Os idealizadores começaram a estudar de forma sistemática os processos químicos e físicos que ocorriam no cozimento. Inicialmente, verificaram se as instruções das receitas eram realmente necessárias e quais as mudanças que seriam provocadas se o modo de preparo fosse modificado. Posteriormente, os objetivos se ampliaram para obter compreensão dos processos na preparação dos alimentos e dos aspectos bioquímicos envolvidos nas percepções sensoriais. O movimento desenvolveu-se com a participação de outras áreas do conhecimento: física, química, biologia, bioquímica, fisiologia e psicologia.
O crescimento dos estudos possibilitou o desenvolvimento de novas técnicas culinárias, a introdução de novos ingredientes na cozinha e a produção de equipamentos com maior capacidade de processamento. Também conhecida como cozinha de vanguarda, é compreendida como a prática da gastronomia molecular e seus efeitos.
O início prático do movimento teve como protagonista e disseminador, o chefe Ferran Adriá, na Espanha. Ele ficou conhecido como o inventor da técnica de produção de espumas. Elas são feitas utilizando o sifão e cápsulas de gás, mas também podem ser feitas com insumos mais simples. Outra técnica muito utilizada é a esferificação, que consiste em “aprisionar” um líquido qualquer numa esfera ou outro formato. As porções destes restaurantes são pequeníssimas e seus clientes buscam as sensações que elas provocam.
Componentes Utilizados
Componentes Geleificantes:
- Ágar-ágar – substância extraída de determinadas algas vermelhas, que geleifica aproximadamente a 40 graus de temperatura, ótima para fazer gelatinas e geleias. Muito usada na cozinha de vanguarda para encapsular ou espessar líquidos.
Componentes Espessantes:
- Goma Gelana – substância que geleifica quente, usado em produtos gelatinosos, geleias e molhos, que forma um gel resistente ao ácido, calor e enzimas. Na cozinha molecular, pode substituir o alginato no processo de esferificação.
- Goma Xantana – aditivo das indústrias alimentícia e farmacêutica, é produzida por bactérias e usada como estabilizante e emulsificante. Na cozinha de vanguarda, é usada como espessante de molhos para facilitar a esferificação.
- Goma Guar – usado para baixas temperaturas. Confere viscosidade, reduzindo a perda de água em produtos congelados. Substitui o amido como agente aglutinante em comida vegetariana (indústria de alimentos), substituindo os ovos.
Produtos Especiais
- Transglutaminase: Enzima que atua sobre o glúten, utilizada na panificação para melhorar a qualidade do produto e aumentar o volume final. Na indústria de alimentos, é usada em produtos embutidos, e na cozinha de vanguarda, é usada como aderente de carnes diferentes, formando uma única peça.
- Maltodextrina: Produto resultante da quebra ou hidrólise do amido, apresentado comercialmente na forma de pó branco, usada na indústria de sorvetes. Embora seja um polímero da glicose, comporta-se como um carboidrato simples, sendo rapidamente metabolizado e absorvido no organismo humano, contribuindo, em indivíduos saudáveis, para o aumento da glicose na corrente sanguínea.
- Isomalte: Produzido a partir da sacarose (açúcar de mesa), tem sabor doce. Usado em uma grande variedade de alimentos e produtos farmacêuticos, apresenta baixo valor calórico e não aumenta os níveis de glicose.
- Metilcelulose: Composto químico vegetal que gelifica a quente e liquidifica a frio, formando uma dispersão viscosa, clara e transparente. Solúvel apenas em água fria, gelifica quando se aplica calor (50-70ºC) e se liquefaz quando resfria. Usada na indústria alimentar como espessante, estabiliza espumas e emulsões e para conferir viscosidade. Na cozinha molecular, serve para a preparação de “sorvetes quentes”, que vão derretendo à medida que esfriam. Não é tóxica nem é digerida, absorvida ou degradada pelas bactérias do trato intestinal, comportando-se como uma fibra alimentar.
- Lecitina de soja: Produto extraído da semente da soja transgênica, usado na cozinha molecular para fazer as espumas. Na indústria de alimentos, é encontrada em sorvetes, chocolates, margarinas e na fabricação de pães.
- Alginato de sódio: Forma uma goma quando extraído das paredes celulares de algas castanhas, sendo usado pela indústria de alimentos como agente espessante para aumentar a viscosidade e como aditivo em sorvetes, achocolatados, molhos para saladas e pudins. Solúvel em água, forma uma solução coloidal viscosa e, quando em contato com o cálcio, forma uma película que reveste as esferas, sendo empregado no processo de esferificação. Não deve ser descartado na pia da cozinha, pois, em contato com bases de cálcio, como leite e derivados, pode obstruir canalizações.
- Citrato de sódio: Usado na indústria de alimentos como agente flavorizante em sodas (lima, limão e cítricos) e como emulsificante, pois favorece as características físicas das emulsões e suspensões. Na cozinha de vanguarda, produz o mesmo efeito que o alginato de sódio, contudo é menos usado pois acentua o gosto ácido.
- Cloreto de cálcio: Utilizado na indústria para camuflar o sabor ácido, sem alterar o pH ácido. Usado em baixas concentrações na cozinha de vanguarda.
- Lactato de cálcio: Na indústria, é utilizado na fabricação de balas, como conservante de alimentos e repositor de cálcio em alimentos e medicações. Mais utilizado no processo de esferificação direta da cozinha molecular, fornecendo cálcio para reagir com o alginato na formação do gel (película).
- Gluconato de cálcio: Usado na indústria de bebidas alcoólicas e líquidos, com alto teor de cálcio. Na cozinha molecular, é utilizado na esferificação reversa juntamente com o alginato de sódio para a formação do gel.
Equipamentos
As pesquisas da gastronomia molecular permitiram o desenvolvimento de vários equipamentos e técnicas que hoje são aplicadas em diversas cozinhas. Alguns tinham preço elevado, mas atualmente estão disponíveis em lojas de eletrodomésticos.
Sous Vide – É um sistema de cozimento a vácuo em baixas temperaturas, cerca de 60ºC, para melhor aproveitamento do alimento, deixando o sabor mais concentrado. O cozimento ocorre preservando os nutrientes e sem mudanças físicas ou cor. Neste caso, é necessário um acabamento após a cocção de carnes brancas. A técnica é mais usada em carnes de caça, bovinas, de aves e pode ser aplicada com o uso de termocirculador ou da panela Gastrovac.
Termocirculador – Equipamento que funciona como banho-maria, com controle muito preciso da temperatura. Possibilita cozimentos em baixa temperatura, mantendo fatores nutricionais e realçando as características sensoriais dos alimentos, que são previamente embalados a vácuo para que não percam sua umidade.
Gastrovac – Panela que cozinha a vácuo, a baixa temperatura, conservando as propriedades naturais dos alimentos.
Thermomix – Processador rápido e com controle de temperatura, usado para preparar cremes e purês de textura finíssima e aveludada. Sua rotação é tão alta que pode quebrar até pequenas moléculas de amido.
Pacojet – Máquina usada para emulsionar rapidamente sorvetes, sorbets e alimentos congelados, triturando até mesmo gelo em grãos minúsculos, até transformá-los em purês.
Sifão – Equipamento usado em cafeterias e bares. Na cozinha de vanguarda, serve para fazer espumas. Para este preparo, os líquidos devem ser coados sem deixar nenhum resíduo antes de serem colocados no sifão.
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Eu sou graduada e pós graduada na área de gastronomia e compilei todos os anos de estudo em apostilas que estou transformando em um livro “Diário da Gastronomia. De Tudo… Um Pouco.” (Para saber mais acesse a página A Gastrônoma, A Autora, A Terapeuta, A Multiface). Através deste site postarei informações importantes que contribuirá para aumentar o conhecimento dos leitores na área de gastronomia A parte teórica pode ser encontrada na página “Conceitos e Teorias“. Quanto à prática, os leitores podem ir treinando com as “Receitas” postadas. Todas as receitas foram previamente testadas.
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REFERÊNCIAS:
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